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quarta-feira, 7 de maio de 2014

  •                     O BATUQUE:



    Religiões afro brasileiras são todas aquelas que tiveram suas origens nas religiões tradicionais africanas que foram trazidas pelos negros africanos na condição de escravos. O Batuque ou Nação é uma de suas ramificações, tendo seu culto voltado aos Orixás. A principal característica do Batuque é o fato de o iniciado não poder saber, em hipótese alguma, que foi possuído pelo seu Orixá, sob pena de ficar louco. Na realidade o questionamento não está no problema da loucura como consequência, e sim no fato de que ao saber que se ocupa, a pessoa pode ceder a vaidade extrema e desta forma banalizar um princípio básico dos Orixás, que está na humildade e desapego material. Cada pessoa possui três Orixás protetores, da cabeça, do corpo e dos pés, sendo que todos possuem o orixá Bará nos pés, mudando apenas sua qualidade. No ato de fazer a cabeça, a pessoa dedica todo sua vida ao cuidado ao Orixá em troca de proteção do mesmo. Para sabermos quais serão os Orixás que regerão determinada pessoa, é necessário que seja feito um jogo de búzios. O Orixá novo não possui o direito de falar, só terá o mesmo quando por decisão do Babalorixá, a passar por um ritual fechado, que lhe dará o direito da fala. Quando o Orixá deseja subir (ir embora), é feito um ritual rápido para que ele seja despachado, devendo o Orixá ficar em "axêre", que é o intermédio entre o Orixá e o estado de consciência humana. Neste momento a pessoa age sob manifestação do Orixá, porém como criança, falando e agindo com infantilidade (neste momento todos os Orixás possuem o direito de falar), comendo doces, tomando refrigerantes e fazendo brincadeiras. Passado o período necessário, o axêre deita no ombro de algum filho próximo e entra em um sono profundo para logo depois acordar como em um susto.

    Os Orixás cultuados no Batuque em sua maioria são doze: Bará, Ogum, Iansã, Xangô, Odé, Otim, Ossanhe, Obá, Xapanã, Oxum, Iemanjá e Oxalá. O culto aos Ibejis varia de acordo com a Nação, sendo que em algumas são associados e considerados como qualidades de Xangô e Oxum.
    As obrigações no Batuque são constituídas por fases divididas: o serão, a festa de batuque e a levantação. Na primeira semana realiza-se o amaci, o bori e a festa de batuque. Na segunda semana é feito o serão de quatro-pés e por fim realiza-se a festa de batuque com a mesa de Ibeji. Neste dia, são distribuídos mercados (bandejas contendo todo tipo de culinária dos Orixás) significando a divisão da fartura e da prosperidade com os participantes da festa. Finalizando esta primeira fase ritual, é realizada a terminação com a obrigação de peixe. Na segunda- feira é feita a apresentação do iniciado à cidade, o passeio. Pela manhã bem cedo se vai ao mercado, a praia, e por fim tem o café da manhã que é tomado na casa de um irmão de religião mais velho ou na casa de outro Babalorixá.

    Amaci ou Mieró
    Após jogada e confirmada nos búzios a cabeça e as passagens do filho, é feito o amaci, que é um ritual feito com ervas específicas de cada Orixá, maceradas na água onde o Babalorixá lava a cabeça do filho que fará a obrigação.

    Bori de aves
    Após o amaci, na próxima obrigação serão sacrificadas as aves específicas de cada Orixá. Nesta obrigação o filho estreita sua relação com o Orixá, tendo em uma manteigueira, denominado de Bori, a representação de sua cabeça ligada ao seu Orixá, através de uma moeda, búzios e mel, tornando-se assim um filho da Religião.

    Bori de quatro-pés
    É uma graduação de maior estreitamento com seu Orixá. Nesta obrigação, além das aves, serão sacrificados nos ocutás, (pedras colocadas em uma vasilha de barro com as ferramentas de cada Orixá, que será a sua representação) também os animais de quatro patas referentes a cada Orixá.

    Obrigação do Peixe
    São sacrificados aos Orixás peixes vivos, pela manhã cedinho, e somente depois que as obrigações de quatro-pés forem levantadas. O peixe varia de acordo com o Orixá a receber a obrigação, e sua quantidade varia de acordo com o axé de número do mesmo.

    Aprontamento de Ofá (búzios) e Obé (faca)
    Nesta obrigação em que o filho se prepara para ser um Babalorixá, consiste em assentar em cada vasilha todos Orixás de Bará até Oxalá. O filho então, além de ter seus três Orixás principais, passa agora a ter todos os outros com nome e sobrenome (digina), assentados. O futuro“pronto” preparará também neste ritual, sua faca, que futuramente usará em sacrifícios para seus filhos, além de ter o axé de búzios, ferramenta esta que usará para guiar a sua vida e dos seus, quando tiver montada sua casa de religião.

    A Festa do Batuque
    Após as obrigações cumpridas e encerrada a levantação (nome dado ao término das obrigações, quando serão levantadas todas as frentes que ficaram em um determinado tempo dentro do quarto de Santo), será tocada a festa, o Batuque. O Babalorixá, ajoelhado em frente ao quarto de santo, juntamente com todos seus filhos e demais convidados, toca o adjá, fazendo a chamada de todos os Orixás de Bará a Oxalá com suas saudações específicas, pedindo a cada Orixá as coisas que a eles competem. Terminada a chamada, o Babalorixá autoriza o tamboreiro a começar o toque. Todos que estão na roda dançam conforme as características de cada Orixá ao qual está sendo tocada a reza.

    Dentro da festa existem rituais específicos que chamados de “Axé”:
    Axé da Balança:
    Se a obrigação que originou a festa teve o corte de quatro-pés, deverá ser realizada dentro das rezas para Xangô, a obrigação da balança. Neste ritual participam só os prontos (filhos que possuem a obrigação de quatro-pés), que dançam de mãos dadas, todos de frente para o centro da roda, onde será tocada pelo tamboreiro a reza específica para este axé. Então todos começarão um movimento de abrir e fechar esta roda, acompanhando o toque do tambor que irá acelerando gradativamente e com as mãos bem seguras, pois se arrebentar a balança, deverá ser pedido misericórdia para Xangô para que nenhum filho venha a morrer. Neste momento se manifesta um grande número de Orixás e todos deverão se manter de mãos dadas até que o tamboreiro encerre a reza.

    Axé do Ecó:
    O ecó é uma mistura de certos ingredientes oferecidos aos Orixás para servirem como imãs de energias negativas onde é limpado e retirado da casa todas as impurezas e vibrações negativas. São oferecidos ecós para os Orixás Bará, Ogum, Iansã, Xangô, Oxum, Iemanjá e Oxalá. Após o axé do ecó, que será realizado após as rezas de Xapanã, começa o toque para os Orixás mais velhos, ou doces: Oxum, Iemanjá e Oxalá, terminando assim a festa.

    Os filhos prontos no batuque são identificados por suas guias de proteção, sendo que sua autoridade religiosa é caracterizada pela guia imperial, um colar de miçangas com as cores correspondentes de todos os Orixás, ou seja, o assentamento de todos. Normalmente o Batuque começa a meia-noite e estende-se até as seis ou sete horas da manhã, isto também é uma influência dos escravos, já que os negros na época da escravatura podiam fazer seus rituais somente após terminados seus trabalhos para os seus senhores, ou esperar com que eles fossem dormir. Não é costume o uso de paramentas no Batuque, geralmente as mulheres usam saia e bata e os homens um tipo de bombacha bem larga e uma kafta, além das guias.
    No mínimo uma vez por ano são feitas homenagens com toques para os Orixás, mas as festas grandes (obrigações de quetro-pés) são de quatro em quatro anos. Esta obrigação serve para homenagear o Orixá dono da casa e dos filhos que ainda não possuem seu próprio templo. A data é geralmente a mesma que o Babalorixá teve assentado seu Orixá, a data de sua feitura.

Um comentário:

  1. muito legal esse poste se todos babalorixas fossem assim a religião não era tão banalizada como é hoje em dia .

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