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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Porque Caboclos e Pretos Velhos?


Introdução, comentários e pesquisa de Alexandre Cumino – Publicado no Jornal de Umbanda Sagrada – Outubro de 2008
O texto abaixo é de Lilia Ribeiro, publicado na Revista Gira da Umbanda, numero 1, em 1972. Revista editada por Atila Nunes Filho.
Lilia Ribeiro foi dirigente da TULEF (Tenda de Umbanda Luz Esperança e Caridade) e editora do jornal informativo Macaia.
A TULEF foi uma das Tendas fundadas por médiuns que vinham da linhagem direta de Zélio de Moraes e que fazia questão de seguir ao maximo a orientação do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Lilia foi quem registrou o maior numero de entrevistas com Zélio de Moraes e boa parte do material foi entregue diretamente a Mãe Maria, da Casa Branca de Oxalá. A palavra de Lilia é forte e carregada de embasamento, tanto quanto de vivência com a Umbanda de Raiz primeira.
Portanto todos os textos desta médium, sacerdotisa, autora e pesquisadora são de suma importância para a religião e não podem se perder no tempo.
São poucos os textos doutrinários de Lilia a maioria do que nos chega de sua autoria são as entrevistas e organização do pensamento e definições dadas por Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Vamos ao texto:
Uma das incógnitas que ainda perduram, na Umbanda, é a verdadeira nacaboclayara tureza dos Caboclos e Pretos-Velhos.
Várias opiniões formaram-se a respeito dessas entidades que, através de uma linguagem simples, emitem, por vezes, conceitos que revelam o pensamento erudito de um mestre.
No decorrer de vários anos de convivência com os nossos Velhos e Caboclos, observando-lhes os trabalhos, auscultando opiniões sobre os problemas da vida terrena, notamos que o grau de conhecimento, de evolução varia muito.
Encontramos Pretos Velhos aparentemente apegados aos bens materiais, fazendo questão do “tôco” e do “pito” que não cedem a ninguém, aborrecendo-se com facilidade, reagindo como simples criaturas humanas.
Outros, porém, revelam no procedimento e nas palavras, no acatamento à disciplina imposta necessariamente pela direção espiritual dos trabalhos, a luz espiritual adquirida.
Uns e outros referem-se às senzalas, à vida passada na escravidão ou nas aldeias.
Se o freqüentador assíduo dos terreiros não procurasse o guia apenas para lhe expor as dificuldades da vida terrena, buscando somente o con­selho para a solução mais fácil dos seus problemas materiais, teria oca­sião de receber ensinamentos pre­ciosos sobre a vida futura, as reen­carnações, a neces­sidade de ven­cer, com o próprio esfor­ço, a passa­gem difícil que se lhe apre­senta e que será mais um grau con­quistado na escola da vida.
Dizia José Álvares Pessoa que a Umbanda é, talvez, a única religião que se preocupa com os problemas ma­teriais do homem. Não por ser um culto mate­rializado.
Pelo contrário: percebendo co­mo o ser humano premido pelas difi­culdades que o seu próprio Carma con­duz, se afasta do criador, quando a en­fer­midade, a falta de recursos financei­ros, a desarmonia no lar se tor­nam mais poderosos que a sua crença, os dirigen­tes espirituais do nosso planeta organi­za­ram um movimento destinado a dar ao homem o conforto, o conselho, a aju­da através dos quais poderá ser, ainda uma vez, reconduzido aos caminhos da fé.
Criaram-se legiões de missionários e para que mais facilmente fossem aceitos e compreendidos pelas classes menos favorecidas, assumiram a feição ainda mais simples, apresentando-se como escravos ou nativos.
Mas terão sido realmente, todos eles, pretos ou índios?
Sabemos que a pobreza e a humanidade não afluem na escala espiritual;
a história da nossa pátria evidencia a lealdade, o caráter do índio brasileiro, o valor de muitos escravos.
Sabemos, igualmente que não existem fronteiras, no mundo astral.
Logo, não é de crer que haja um plano exclusivo para caboclos e pretos escravos.
Preferimos, portanto, adotar o conceito de muitos espiritualistas, entre os quais o acima citado J. A. Pessoa:
os guias participam desse movimento de socorro ao homem encarnado,
neste final do segundo milênio e se apresentam como Caboclos e Pretos Velhos, nem sempre tiveram a última passagem na terra como escravos ou índios; alguns, possivelmente, nunca o foram.
Assumiram essa personalidade como distintivo da missão que viriam a desempenhar.
Uns contam como viveram, há 2pretovelho 00 anos ou há pouco mais de meio século, nos engenhos ou nas aldeias indígenas. Outros abstêm-se de qualquer referência à sua passagem na vida terrena.
Pacientemente, dão atenção às queixas, ao relato dos pequenos problemas de rotina da nossa vida, aconselhando, animando, esclarecendo, conforme a necessidade de quem lhes fala.
Ensinam a mensagem do Evangelho, o perdão, o amor ao próximo, mos­tram como é necessário dar para rece­ber, perdoar para ser per­doa­do, corrigir as fa­lhas, dominar os senti­mentos de vingança, de inveja, para adquirir luz.
E através desse traba­lho humilde, incompreen­­dido, ainda, por mui­tos, vão prosseguindo na missão de recon­duzir o homem ao caminho que o levará a Deus.
Sua origem, não importa.
Se o Caboclo viveu como um cacique de uma tribo ou como iniciado de uma seita oriental, não interessa no momento.
Se o Velho foi escravo ou jovem médico, ou se foi mestre na magia, também não faz diferença.
O que vale, agora, é apenas a missão a ser cumprida, em benefício da humanidade,
para que o Brasil, futuro centro de difusão do Evangelho, esteja melhor preparado para o advento do III Milênio.
Transcrição completa do artigo publicado pela revista Gira da Umbanda, ano 1 – número 1 – 1972, Introdução, comentários e pesquisa de Alexandre Cumino
Publicado no Jornal de Umbanda Sagrada – Outubro de 2008

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