Diversidade de Rituais Umbandistas
É muito comum ouvirmos de pessoas que não são umbandistas, que a umbanda é uma grande confusão.
Algumas chegam a falar que a umbanda é “casa da mãe Joana”, onde cada um faz o que quer.
Não
conseguem entender o motivo de um Terreiro não utilizar atabaques
enquanto outros utilizam; outros usam roupas coloridas enquanto outros
usam somente o branco, outros não trabalham com exus, enquanto outros
fazem questão de trabalharem, outros criticam com rigor o uso de sangue e
sacrifícios de animais, enquanto outros utilizam estes elementos.
Chamamos isto de Diversidade de Rituais.
Quando
iniciamos nossa caminhada na umbanda na década de setenta, tivemos
oportunidade de visitarmos alguns terreiros e naquela época já
percebemos a grande diferença existente entre os rituais de cada
Terreiro.
Infelizmente
existia naquela época um grande preconceito, e eram comuns comentários
de que determinada casa não era de umbanda, outros falavam que
determinada casa era mais forte que a outra, o estudo era muito raro e
na maioria das vezes desprezado pelos dirigentes.
O
tempo passou e por volta de 1997 começamos um trabalho de divulgação da
umbanda pela internet através da lista de debates Saravá Umbanda.
Foi a partir desta experiência que percebemos o grande preconceito existente entre os umbandistas.
A Internet veio facilitar o contato, o estudo e a divulgação das várias formas de se trabalhar na umbanda.
A
diversidade de rituais era desconhecida por muitos, e tivemos
oportunidade nestes 12 anos de presenciar terríveis disputas e choques
entre umbandistas, cada um querendo afirmar que a “sua” umbanda era a
verdadeira umbanda. Em alguns momentos as agressões chegavam ao extremo,
passando de agressões verbais para processos judiciais.
Com o passar do tempo e com o convívio nas listas, algumas pessoas passaram a entender que a umbanda, embora seja única, não possui uma única doutrina.
Que não existe umbanda melhor ou mais forte que outra.
Estas pessoas começaram então a respeitar e entender a diversidade de rituais existentes em nossa religião.
Em
2006 criamos a RBU que atualmente possui mais de 10.300 integrantes
(agosto/2009) e é com tristeza que continuamos a verificar que a grande
maioria das pessoas ainda desconhece esta realidade de nossa religião.
Este
pequeno texto tem a finalidade de mostrar para as pessoas de uma
maneira simples e racional como que entendemos a Diversidade de Rituais
existentes na umbanda.
Qual a diferença entre a Umbanda e as demais religiões tradicionais?
O que é uma estrutura piramidal hierárquica autoritária?
Várias
organizações possuem como forma de organização e comando uma estrutura
autoritária (centralizadora). Podemos citar como exemplo, a Igreja
Católica que segue rigidamente as orientações de Roma, do Vaticano e que
possui no Papa o chefe da igreja.
Outro exemplo é o dos militares (Forças Armadas), que possuem uma hierarquia rígida e um comando único.
Podemos
enquadrar dentro desta estrutura hierárquica autoritária aquelas
religiões ou filosofias que possuem uma doutrina rígida.
Normalmente
seguem algum livro ou livros e possuem muita dificuldade em fazer
qualquer alteração doutrinária em função do modelo hierárquico
autoritário.
Por
exemplo, o “Espiritismo” (chamado popularmente de Kardecismo). No ápice
da Pirâmide está a “doutrina”, o Pentateuco Kardequiano, e que por
condição dos próprios espíritos que apresentaram a doutrina, não pode
ser alterado em hipótese alguma sem a “concordância universal dos
espíritos”.
A doutrina espírita é do século XIX ( 1857).
Este
autoritarismo doutrinário se reflete em várias situações. É do
conhecimento público os vários autores espíritas que ficaram proibidos
de publicarem suas obras por serem considerados “não doutrinários”.
Espíritos foram taxados de enganadores e mistificadores e seus livros psicografados deixaram de ser considerados espíritas. Não vamos citar os nomes, mas basta realizarem uma pesquisa na Internet e encontrarão vários casos.
Espíritos foram taxados de enganadores e mistificadores e seus livros psicografados deixaram de ser considerados espíritas. Não vamos citar os nomes, mas basta realizarem uma pesquisa na Internet e encontrarão vários casos.
O
uso de recursos como cromoterapia, uso de cristais, incensos, banhos,
equilíbrio dos chakras, magia, apometria, reiki, e muitos outros
assuntos não são considerados “doutrinários”, portanto os Centros que
utilizam alguns deste recursos não são casas espíritas, podendo no
máximo serem chamados de centros espiritualistas.
Estrutura em rede.
O que é Estrutura em rede?
Desde
a década de 20, quando os ecologistas começaram a estudar teias
alimentares, o padrão de rede foi reconhecido como o único padrão de
organização comum a todos os sistemas vivos:
“Sempre que olharmos para a vida, olhamos para redes”
(Fritjof Capra – A Teia da Vida)
As
redes, basicamente descritas como conjuntos de itens conectados entre
si são observadas em inúmeras situações, desde o nível subatômico até as
mais complicadas estruturas sociais ou materiais concebidas pela
humanidade.
Átomos
ligam-se a outros na formação de moléculas, seres vivos dependem de
intrincadas redes de reações químicas e de interações protéicas. Vasos
sangüíneos e neurônios formam redes essenciais para organismos
complexos. Construções humanas como a distribuição de água, energia
elétrica e telecomunicações podem ser vistas como redes, da mesma forma
que estradas, rotas marítimas e aéreas, percursos feitos para entrega de
bens e serviços. Relações sociais e negócios conectam pessoas e
organizações segundo os mais variados padrões. Computadores, bancos de
dados, páginas web, citações bibliográficas e tantos outros elementos
compõem suas redes cotidianamente.
Foi a partir destes conceitos que criamos a RBU – Rede Brasileira de Umbanda. ( www.rbu.com.br )
Todos sabem que a umbanda possui vários fundamentos, entre eles:
Fundamentos Africanos, Espíritas, Católicos, Indígenas, Teosóficos, Hinduístas, etc…
“A Umbanda é uma religião Universalista”.
Vamos
voltar nossa atenção para a imagem acima. Fizemos um desenho de uma
rede plana e para ilustrar o que foi dito acima incluímos somente quatro
fundamentos básicos de nossa religião: Africano, Católico, Espírita e
Indígena.
Reparem
que existem alguns “pontinhos” escuros nesta rede, são os “nós” da rede
e que representam os diversos Terreiros de Umbanda existentes.
Cada “nó” ou Terreiro tem um conjunto diferente de fundamentos, o que acaba refletindo no ritual seguido pelo Templo.
Por exemplo:
Cada “nó” ou Terreiro tem um conjunto diferente de fundamentos, o que acaba refletindo no ritual seguido pelo Templo.
Por exemplo:
Terreiro (1)
O Terreiro identificado por (1) tem uma forte influência Católica.
São Terreiros que possuem no congá muitas imagens de Santos, Anjos, Arcanjos, Jesus, Espírito Santo, etc…
São Terreiros que possuem no congá muitas imagens de Santos, Anjos, Arcanjos, Jesus, Espírito Santo, etc…
É comum nestes Terreiros as procissões para São Jorge, Nossa Senhora Aparecida e demais Santos Católicos.
Os Pontos Cantados sempre relacionam os Orixás aos Santos, e muitos chegam a afirmar que o Santo e o Orixá são a mesma coisa.
As cerimônias são semelhantes aos da igreja católica: Batismo, Confirmação (Crisma), Casamento etc…
As cerimônias são semelhantes aos da igreja católica: Batismo, Confirmação (Crisma), Casamento etc…
Sempre lembrando as cerimônias católicas.
Algumas casas não trabalham com Exú, algumas chegam a identificar o Exú ao demônio.
Terreiro (2)
O
Terreiro identificado como (2) está bem próximo dos fundamentos
africanos, isto significa que naquele Terreiro os rituais africanos
estão presentes de forma significativa. São Terreiros de umbanda que tem
uma forte influência do Candomblé e do Culto Omoloko, alguns cultuam os
Orixás de forma bem próxima ao do Candomblé, oferecem animais, usam
inclusive sangue em alguns rituais, alguns chegam a afirmar que não são
cristãos. Possuem rituais como: borí, deitada, mão de pemba, mão de
faca, etc.. Exú é cultuado como um Orixá.
O uso dos atabaques é imprescindível.
O uso dos atabaques é imprescindível.
Terreiro (3)
Os Terreiros identificados como (3) tem uma forte influência da doutrina espírita.
A doutrina espírita é estudada pelos seus integrantes.
Caboclos, Pretos Velhos, Baianos, etc. são considerados espíritos em evolução e que já estão libertos do ciclo reencarnatório.
No
congá não fazem uso do sincretismo religioso, ou seja, não existem
imagens de Santos; normalmente Orixás são entendidos como espíritos de
muita evolução, sendo considerados pura energia.
Orixás nunca incorporam.
De forma alguma aceitam o uso de sangue ou sacrifício de animais como oferenda para os Orixás.
Nestes Terreiros utilizam somente roupa branca; rituais de origem africana são totalmente desconhecidos nestes Terreiros.
Conceitos como mediunidade, passes, vibrações, obssessores são muito comuns.
Em alguns os Caboclos e Pretos Velhos fazem uso do fumo.
Em alguns os Caboclos e Pretos Velhos fazem uso do fumo.
Terreiro (4)
Nestes
Terreiros a presença de rituais de origem indígena é muito forte.
Normalmente Caboclos comandam todos os Trabalhos, é comum o uso de
charutos para defumação ou pajelança.
Em alguns os nomes utilizados internamente são de origem Tupy antigo, e valorizam muito a tradição indígena brasileira.
Em alguns os nomes utilizados internamente são de origem Tupy antigo, e valorizam muito a tradição indígena brasileira.
Conclusão:
Como
podem verificar não esgotamos as possibilidades, os fundamentos
existentes na umbanda são muitos e naturalmente que não se apresentam de
forma única como descrevemos acima, eles se fundem em proporções
diferentes e dão as características de cada Terreiro, a egrégora, a
vida, o axé de cada casa.
Não
podemos de maneira alguma aceitar os absurdos que muitas vezes acabam
na coluna policial dos jornais, mas precisamos neste momento em que
existe uma grande intolerância para com a nossa religião nos unirmos e
respeitarmos a maneira de trabalhar de cada Terreiro.
Se
estudarmos a história do Movimento Umbandista, verificaremos que embora
os homens tenham insistido, durante vários anos, em enquadrar a Umbanda
dentro de um sistema hierárquico autoritário (através de Federações,
doutrinas, códigos etc…), ela sempre resistiu mantendo sua estrutura em
rede.
Precisamos entender que a Umbanda é uma religião nova, brasileira e que os Orixás nos presentearam com esta maravilhosa religião.
Podemos afirmar categoricamente que a UMBANDA é uma religião do futuro.
Uma religião que permite que cada um busque aquele Terreiro que fale mais alto ao seu coração sem deixar de ser umbandista.
Se
lembrarmos as palavras do Caboclo das 7 Encruzilhadas, veremos que os
alicerces da Umbanda são a liberdade e a igualdade, gerando as mesmas
oportunidades para todas as pessoas e espíritos virem trabalhar e
evoluir.
Manoel Lopes – Dirigente do Núcleo Mata Verde
Obs.: Divulgue a vontade este artigo, só não esqueça de citar a fonte
Fonte do texto: http://www.mataverde.org/blog/2010/11/09/umbanda-%E2%80%93-uma-visao-sistemica/
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